Drag é atitude
O corpo enquanto arte
Ainda sem estabilidade, drag queens dedicam tempo e dinheiro para o trabalho
Carlos Queiroz -
“Drag é mais do que salto e glitter, é questionamento, atitude, subversão.” Assim define em palavras o estudante Bruno Carvalho, 20, sobre o que é ser drag queen. Conhecidas pela extravagância na maquiagem, perucas, roupas femininas estilizadas, o movimento é, antes de mais nada, uma expressão artística. “O corpo como uma tela pra pintura”, define Bruno que, quando assume o personagem, passa a se chamar Ostara London. Atualmente, em Pelotas, são cerca de 15 a 20 drag queens. Eles buscam, agora, reconhecimento e espaços para atuar e trabalhar. Hoje não conseguem se sustentar apenas com esta atividade.
Como artista, Bruno atua, principalmente, na noite. Pelotense, atualmente estuda Hotelaria na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Também é DJ, faz recepção em eventos, performances em festas. Entretanto, as possibilidades de atuação vão além das casas noturnas, para oferecer oficinas de maquiagem, de moda, animação de festas, formaturas, palestras sobre o tema Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT) e atividades artísticas. As roupas utilizadas em apresentações são confeccionadas por sua mãe, que é costureira. “Eu penso num look, passo pra ela, ela faz diferente e fica melhor do que pensei”, comenta Bruno.
Natural de Pelotas, Leandro Martins, 37, é drag queen há 11 anos e trabalha no comércio durante a semana. Quando vestido artisticamente de drag, como popularmente são conhecidos, seu nome é Maddivah Vuitton, uma junção dos nomes da artista pop Madonna e da palavra “diva”. Entre os trabalhos já realizados como artista drag, estão chás de fraldas, chás de casa nova, DJ, performance, shows, entre outros. Ele conta sobre uma ocasião, em um chá de casa nova no Sítio Floresta, zona norte de Pelotas. “Era um chá bem tradicional, com a família reunida, avós presentes”, conta Leandro. Assim que entrou pela cozinha, que dava acesso à sala, o público ficou impressionado e em silêncio. Entretanto, logo perceberam que se tratava de uma performance artística. “Logo quebrou o gelo, foi muito divertido”, recorda.
Em 2016, na última edição do Glamour Gay de Arroio Grande, Maddivah venceu na categoria Top Drag do evento. Para a reportagem afirma que também já participou de eventos em Rio Grande, Porto Alegre, Herval, entre outras cidades da região. Os principais lugares para trabalharem são as casas LGBT The Way e Divas, além do espaço alternativo Baiuca. Para atuarem à noite eles chegam a demorar cerca de três a quatro horas entre maquiagem e preparação, além dos números artísticos apresentados, que são treinados durante meses. “No início não ganhava cachê, só entrada livre, nem tinha o conhecimento que poderia cobrar”, conta Leandro.
“Drag não é travesti”
“Eu não tenho vontade de ser mulher”, afirma Lear Neves, 22. “Se eu tivesse essa vontade, seria travesti”, complementa. Durante a semana, sem maquiagens e as roupas características, Lear trabalha num ateliê de costura. Ele conta que era muito tímido na escola, quando se interessou pelo teatro. Seu primeiro personagem, numa peça foi uma bruxa. As atuações tiveram um grande significado para Neves. “A arte quebra as barreiras, os medos, as amarras que a gente tem.” De acordo com Lear, quando se está fantasiado, não é a mesma pessoa vista pela rua em dias da semana. “A pessoa adormece e assume outro ser”, analisa. Há cinco anos ele atua como drag, e seu personagem se chama Lorena Drag.
Os três estiveram, no ano passado, participando da Parada LGBT do Cassino, em Rio Grande. Já maquiados e vestidos, numa rápida parada num supermercado da praia, famílias inteiras pediam para tirar fotos com os três. “A gente parou o supermercado”, lembra Lear. Com salto alto e roupas coloridas, chegaram a ficar 12 horas com a vestimenta. “Tudo sai com um banho de 15 minutos”, finaliza.
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